REGTECH: VANTAGENS COMPETITIVAS
O setor financeiro é fortemente regulado. Trata-se do dinheiro, da reputação e até da estabilidade do país e, em consequência, do bem-estar da sociedade. Nesta perspetiva a forte regulação é imprescindível, já que equilibra relações entre instituições, clientes e reguladores e mantém a estabilidade do sector financeiro. Nos últimos anos, e em resposta à crise, tem havido profundas alterações legislativas, tanto a nível europeu como nacional, com o objetivo de fortalecer a estabilidade, criação de almofadas contra eventuais choques, melhor gestão de risco através do acesso facilitado a informação, proteção do consumidor e ainda maior transparência do setor.
Para além dos desafios colocados pelo regulador a transformação digital revolucionou completamente o setor financeiro, alterando o paradigma de foco no produto para o centrismo no cliente. A jornada do cliente tornou-se um foco de todas as instituições. Estas querem fornecer aos seus clientes uma experiência única e coerente.
Os canais digitais tornaram-se um balção cada vez mais utilizado – o que se traduz em menos interação pessoal com o cliente. Hoje em dia já se pode abrir uma conta bancária apenas com um telefone. Estes novos desafios obrigaram as instituições a atualizar os seus procedimentos para antecipar os riscos associados a esta nova realidade.
RegTech – inovação na Compliance
Com a diminuição da margem de lucro das instituições e com os novos requisitos legais que obrigaram os bancos a transformarem os seus balanços e a controlarem a alavancagem, as instituições têm de repensar os seus procedimentos de Compliance e de gestão de riscos com o objetivo de diminuição dos custos. Os estudos indicam que atualmente cerca de 10-15% dos colaboradores de instituições financeiras trabalham em governance, controlo de risco e Compliance (FT, Banks’ AI plans threaten thousand of jobs, 2017). Nesta realidade surgem as RegTech (Regulation Technology) com o objetivo de fortalecer os processos de Compliance, mitigar os riscos, reduzir os custos e aumentar a eficiência através dos processos de automação (RPAs) e utilização de Inteligência artificial.
RPAs, Machine Learning e AI estão já a revolucionar os processos de Compliance e gestão de risco. Estas tecnologias são tema de investigação já há várias décadas, mas apenas num passado mais recente – devido ao aumento exponencial do poder de computação e acesso a big data – se têm vindo a concretizar numa resposta para vários desafios do setor como avaliação de risco, deteção de fraude, trading ou gestão de finanças e chatbots.
RegTech – vantagem competitiva
Compliance (e como consequência também RegTech) tradicionalmente é vista como um custo, uma obrigação legal que a instituição tem de cumprir. Discute-se a redução dos custos através de soluções inovadoras RegTech, no entanto, ainda não se explora a vertente comercial destas soluções
O cumprimento da legislação traduz-se em acumulação de informação sobre o cliente, os seus hábitos, as suas escolhas e análise dos mesmos. Porque não, paralelamente ao fortalecimento e adequação dos procedimentos KYC, utilizar esta informação para fornecer uma experiência mais adequada ao cliente?
A utilização da informação já recolhida para efeitos de Compliance e Gestão de Risco permite dinamizar a jornada do cliente assim como desenvolver novos produtos e serviços personalizados e adequados às verdadeiras necessidades do cliente. Desta forma podemos converter um custo obrigatório numa vantagem competitiva.
SupTech – inovação na regulação
Começa a surgir um novo conceito relacionado com regulação SupTech (Supervisory Technology) para os reguladores. Tal como as instituições financeiras utilizam soluções RegTech nos seus procedimentos internos, os reguladores começam a explorar as mesmas tecnologias para exercer o seu papel de supervisão. A inovação na supervisão permite alterar o paradigma dos procedimentos baseados em dados do passado, inspeções e ações de supervisão reativas para uma atitude mais pró-ativa que se baseia na rápida obtenção e processamento automático dos dados, ferramentas sofisticadas de análise dos mesmos assim como automação dos próprios procedimentos de supervisão.
Finlabs e Sandboxes
Os reguladores felizmente não se limitam a responder aos desafios existentes, mas tentam antecipar os mesmos criando iniciativas como Finlabs ou Sandboxes que permitem estabelecer um diálogo mais vívido entre inovação e regulação e, testar num ambiente mais controlado as soluções fintech e regtech. Estas iniciativas, como por exemplo Finlab do Banco de Portugal, disponibilizam às empresas inovadoras por um lado um canal aberto de contacto com os reguladores, para esclarecimento de dúvidas legislativas, e por outro lado permitem ao Banco Central entender os desafios do sector, antecipar os riscos e proativamente contribuir para a evolução do sector financeiro
Anna Muzalska | Head of Financial Solutions Department at Quidgest